segunda-feira, 5 de março de 2018

A tatuagem e a semiótica da Cultura

Resenha: A tatuagem como Sistema Semiótico da Cultura

A Semiótica da Cultura (SC) é um referencial teórico desenvolvido por um grupo de pesquisadores da antiga União Soviética, chamado Escola de Tártu-Moscou/ETM. Essa corrente abrange um legado de discussões, que se dobra sobre aspectos sociais, filosóficos, tecnológicos que, de alguma forma, têm influência sobre a produção sígnica de determinada cultura e dão conta dos processos de significação e de comunicação de um grupo social.
A semiótica da cultura desenvolveu-se a partir dos anos 1960 sendo considerada uma abordagem recente entre as diversas tradições semióticas existentes.
As teses que fundamentam a semiótica da cultura, embora sejam claramente focadas no estudo da cultura eslava, apresentam tópicos que abordam os conceitos de cultura, texto, linguagem, interpretação semiótica, sistema semiótico, tradução e mecanismo semiótico da cultura – além dos seus desdobramentos em exemplos.
Com certa brevidade, as teses explicam características da interpretação semiótica da cultura, como a percepção da cultura como uma organização hierárquica e aberta de sistemas semióticos, na qual são produzidos textos (elementos básicos da cultura, portadores de significado integral) que podem vir a integrar a memória da cultura.
Sendo um sistema da cultura, a tatuagem possui significados sociais que alteram no tempo e no espaço, estabelecendo sutis formas de comunicação entre as pessoas. Consideramos numa análise deste sistema semiótico, as características que os configuram, como sua estruturalidade, suas fronteiras, quais modelizações (além da exercida pela linguagem natural) atuam sobre ele e as traduções que configuram semiose a partir da tradição e de outros sistemas.
A tatuagem, enquanto sistema comunicativo está relacionada, tanto com a linguagem verbal quanto com outros sistemas modelizantes. Considerando que a prática da tatuagem, uma das formas mais antigas da comunicação não-verbal,  é realizada até hoje (mesmo passando por modificações estéticas, conceituais, semióticas, técnicas, etc) trata-se aqui de um tema de relevância também histórica.


Dentre as múltiplas áreas do conhecimento que deram origem à semiótica da cultura, destacam-se a linguística (especificamente a desenvolvida por Roman Jakobson) e a teoria literária nos trabalhos de Bakthin.
A tatuagem é a prática individual e social que integra inúmeras culturas marcadas no tempo e no espaço e apresenta uma estruturalidade suficientemente estável para ser considerada um sistema semiótico da cultura.
Em culturas nas quais a tatuagem é um sistema modelizante da sociedade, como grande parte das tribos nativas das ilhas do Oceano Pacífico, as formas exploradas na tatuagem aproximam-se do sistema lógico-geométrico, abstratas e simétricas, signos contínuos que funcionam como signos discretos. A técnica da origem ao nome e lhe encarrega da função mnemônica que a tatuagem exerce enquanto texto da cultura.
Em culturas em que a sociedade cria sistemas modelizantes e se apropria da tatuagem, esta funciona como texto da cultura.
As semioses, no sistema da tatuagem, ocorrem principalmente pelo mecanismo de tradução, seja a tradução da tradição (de textos do próprio sistema cultural) ou de textos alossemióticos.
O sistema semiótico da tatuagem, embora se encontre num momento de explosão cultural (em que incorpora não memórias, como a destatuagem, às suas relações estruturais), permanece sendo um espaço de atividade semiótica de outas inúmeras culturas). Tendo como suporte o corpo humano, a tatuagem recupera o lado primitivo das culturas em que está presente, mantendo ativa a mídia primária em uma conjuntura de supervalorização das mídias terciárias.
Por excelência, esse sistema semiótico  é também um espaço de memórias: memórias individuais tais como textos, compõe memórias coletivas. Cada tatuagem é uma manifestação da cultura (muitas vezes sendo, de fato, uma prática coletiva), portanto, mesmo quando ocorre a morte de um individuo tatuado, a cultura da tatuagem permanece viva. E, embora a destatuagem se apresente como uma tendência crescente no caos da explosão cultural, por ela equivaler-se à tatuagem em nível estrutural, pode-se afirmar que a tatuagem  perpetua a cultura e a cultura perpetua a tatuagem. A tatuagem é um devir-memória da cultura.

Fontes: Priscila dos Santos Novak -  TCC de Graduação do Curso de Publicidade e Propaganda da UFRGS
http://worldsoundmusic.blogspot.com.br/2012/12/semiotica-da-cultura_4.html

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