Compartilhar significados construídos a partir da leitura. Uma estratégia de aproximação com a vida. No seu percurso histórico a leitura foi se constituindo em um processo individual de construção de significados.
Aprender a ler, nesse sentido, equivalerai a tirar um passaporte para o exílio, obter a permissão para a auto-exclusão do leitor dos espaços públicos, da participação social efetiva, do confronto.
A leitura passaria a ser um exercício substitutivo da realidade.
(...) Enquanto escrevia, pude ouvir a tua voz que me seduz. De olhos fechados, buscava imaginar o silêncio destas páginas impressas sendo quebrado pelo som da tua voz. Não o som da letra, mas o som do sentido das palavras. Não o oral desarticulado das sílabas escondidas, mas a fluidez da melodia entoada pela tua boca.
Não a fala do texto – esse fantasma simulado de grafia – mas o dizer da voz, do olhar, dos gestos, de uma cena repleta de sentido. Por meio da tua voz translúcida, posso agora ouvir labirintos, punhais, tigres.
Meus olhos, que por mil vezes percorreram os arabescos negros grafados nas páginas dos livros, agora cismam sobre a tua presença. De tua boca, a tradução do sentido interposto entre a grafia e a interpretação: esta língua roçando meus ouvidos.
José Juvêncio Barbosa – São Paulo, 14 de Janeiro de 1994
(retirado do livro – Ler e dizer – Compreensão em Comunicação do texto escrito por Elie Bejard – Volume 28 – Cortez Editora – São Paulo)
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